Roubos de veículos crescem 83% no Ceará em 2020;recuperação de automóveis aumenta 25%

O número de roubos de veículos no Ceará voltou a subir, após três anos seguidos de queda. Entre janeiro e agosto de 2020, foram 6.299 roubos de automóveis, um aumento de 83,8% em relação a igual período de 2019, que teve 3.427 registros. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS)

Em contrapartida, o número de furtos de veículos diminuiu 3,4% no estado, passando de 2.844 crimes nos oito primeiros meses do ano passado para 2.746, neste ano.

E a taxa de recuperação de veículos roubados ou furtados cresceu 25,9%, ao sair de 4.947 casos em 2019 para 6.233, em 2020.

O ex-titular da SSPDS, André Costa, concedeu entrevista ao G1 sobre o assunto antes de formalizar a saída do órgão, na quinta-feira (3). Segundo ele, a maior preocupação do órgão é o número de roubos de veículos, por ser um crime que contém violência.

Número cresceu durante meses de ‘lockdown’

Os meses de fevereiro, março e abril registraram os maiores números de roubos de veículos, com 1.183, 1.080 e 1.008 casos, respectivamente. Depois de maio, o índice voltou para o padrão do início do ano.

“Nesse ano, enfrentamos algumas dificuldades. Em fevereiro, houve uma explosão do número de roubos. Inclusive dentro de março e abril. Curioso que foram meses de isolamento social (devido a pandemia de Covid-19), às vezes até com lockdown, quando a circulação de veículo chegou a reduzir 70% em algumas áreas de Fortaleza, mas ainda assim a gente teve uma elevação muito forte”, relata.

André Costa aponta as possíveis motivações para o aumento dos crimes: “Em fevereiro, nós tivemos os motins dos policiais militares, que impactaram bastante não só nesses índices. E logo depois, tivemos o início do primeiro decreto de isolamento social. Os meses de março e abril foram os mais críticos porque nós tivemos o maior volume de afastamento de policiais militares e civis, por conta da pandemia. Em abril, nós chegamos a ter 1.700 policiais militares afastados e quase 500 policiais civis”.

Motorista assaltado

O motorista de aplicativo Fabrício Santos teve o veículo roubado em abril deste ano. Ele trabalhava com um carro alugado, por volta das 22h do dia 21 abril, quando recebeu um chamado para o Bairro Granja Portugal, em Fortaleza.

“Peguei três caras. Na hora que eu cheguei na Avenida Perimetral, para entrar para o (Bairro) Henrique Jorge, me mandaram entrar em uma rua. Me renderam, mandaram eu ir para atrás do carro, armados de faca e revólver. Perguntaram se o carro tinha rastreador, eu disse que não. No Henrique Jorge mesmo, eles me deixaram, perto de uma pracinha”, conta.

Fabrício procurou uma base fixa da Polícia Militar para denunciar o caso e depois foi até uma delegacia da Polícia Civil, onde registrou Boletim de Ocorrência (B.O.). O veículo começou a ser monitorado pelo Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia). Duas horas depois do crime, o carro foi encontrado, quebrado, pela Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), no Bairro Bom Jardim.

Fabrício teve objetos pessoais roubados – dois aparelhos celulares e a carteira com dinheiro – e ainda foi obrigado a pagar R$ 5 mil para a locadora do veículo. “Fico apreensivo quando vejo três pessoas para pegar. E depois das 18h, não vou mais para alguns cantos”, revela.

Tecnologias

O número de veículos roubados no Ceará era estável desde 2014 e começou a cair em 2017 devido à instalação do Spia, desenvolvido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em parceria com a SSPDS. Em 2019, o índice chegou ao menor patamar desde 2012. A tecnologia conta com mais de 1.500 sensores espalhados no estado, com o objetivo de combater a mobilidade do crime.

De acordo com o ex-secretário, o estado criou também um programa de cadastro temporário de veículos roubados e furtados, com informações repassadas por ligações feitas para o número 190 após os crimes, e que já aciona o Spia.

“O Ceará fez algo diferente do resto do país. Nos sistemas, para constar um veículo como roubado ou furtado, ele só vai entrar após a feitura do Boletim de Ocorrência na delegacia. Ainda que seja rápido, até que o cidadão vá à delegacia e o policial civil insira aquele veículo no sistema do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), é o tempo suficiente para a pessoa fugir ou praticar outros crimes com o veículo”, explica

Perfis dos criminosos

André Costa detalha que há vários perfis de criminosos que atuam com roubos e furtos de veículos. “A gente tem desde o pequeno criminoso, que mudou a sua logística. Antes da popularização do veículo automotor, ele saía da periferia a pé ou de bicicleta, praticava assaltos nas proximidades, tinha rotas de fuga e voltava para dentro da sua casa. Com a popularização, esse perfil mudou. Mesmo o pequeno assaltante sai de casa, busca roubar um automóvel e passa a utilizar aquele veículo para praticar roubos na cidade”.

DIARIO DO NORDESTE

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