Óbitos em residências têm aumento de 38% entre março e julho no Ceará

Dados obtidos pelo G1 via Lei de Acesso à Informação no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) mostram que 3.138 pessoas morreram em casa no Ceará entre janeiro e julho deste ano. Nem todos os falecimentos foram provocados pela Covid-19, mas no recorte de março a julho, as mortes em domicílios por diferentes causas tiveram alta de 38,17%. Isso porque, neste período, foram 2.465 óbitos contra 1.784 do ano passado.

No mês de março, quando o Ceará confirmou as primeiras contaminações pelo novo coronavírus, 420 pessoas morreram na sua própria residência. Em abril, 550. Já em maio, pico da doença, foram 967 ocorrências. É o maior número na série histórica desde 2014. Junho e julho tiveram 283 e 245 mortes, respectivamente.

Até o mês de julho, conforme o balanço do SVO, as mortes em casa ocorreram em 66 municípios cearenses. Fortaleza anotou 2.563 óbitos desta natureza, seguida por Caucaia (194), Maracanaú (116), Maranguape (33), Aquiraz (32) e outros municípios da Região Metropolitana (RMF).

O SVO não detalhou as causas das mortes, mas profissionais de saúde explicam que, em geral, essas pessoas não dispõem de acompanhamento médico prévio ou não tiveram assistência adequada. Dessa forma, a pandemia pode ter influenciado indiretamente para o aumento das mortes, já que o sistema de saúde teve sobrecarga de atendimentos ou a população teve receio de buscar hospitais.

Finalidade

Segundo a diretora do Centro de Serviço de Verificação de Óbitos Dr. Rocha Furtado (SVO), Débora Nunes de Melo, o órgão foi criado para esclarecer a causa das mortes em situações de óbito natural. Ela destaca que o estado precisa saber o motivo do óbito em casa para entender a mortalidade populacional e elaborar políticas públicas. Dentre os atendimentos, revela, 70% são de pessoas pobres ou muito pobres. “Um contingente que não tem assistência médica”, completa.

Ainda conforme Débora, “muitos óbitos” ocorridos até julho não foram em razão da Covid-19 diretamente, mas a falta de atendimento médico também pode ter contribuído para essa alta. “Indiretamente, por várias razões, a população estava com medo de procurar assistência médica e ficou em casa e houve descompensação de outras doenças, houve pessoas que procuraram mas por conta da sobrecarga não foram atendidas”.

Causas

A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, cita que as mortes em residências podem estar associadas a condições como idoso com sintomas de AVC ou infarto, que não procurou atendimento médico; ausência de acompanhamento ou rastreio de doenças crônicas; e paciente que, mesmo percebendo o agravamento do seu quadro respiratório, optou por ficar em casa devido à lotação das unidades de saúde na pandemia.

Os óbitos, sugere a também virologista e epidemiologista, podem ser evitados. “O problema é que o sol passou a raiar somente para a Covid 19, negligenciando as outras doenças. Doenças do aparelho circulatório, como infarto, precisam de atenção emergencial e não tinha sistema para atender. Não somente questões estruturais, mas recursos humanos”, afirma Caroline Gurgel.

Diario do Nordeste

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