Mulher vítima de crime sexual supostamente cometido por médico conta sobre o abuso sofrido

Uma mulher de 26 anos, vítima de abuso sexual em que um médico é suspeito no Ceará, contou os momentos em que percebeu o crime, além do preconceito e descrédito que sofreu após o caso. Ela conta que era a primeira consulta ginecológica dela e o médico não deixou que a mãe a acompanhasse na consulta. A jovem só percebeu o assédio quando sentiu o médico a penetrando.

“Quando eu senti que no momento ele estava me abusando, senti que ele estava penetrando em mim, eu gritei e pulei. Comecei a gritar ‘seu louco’. Ele foi logo tirando a luva, lavou a mão bem rápido. Só vesti a blusa, deixei meu sutiã e minha chinela lá”, conta a vítima.

O médico, que hoje tem 71 anos, é investigado por três casos de estupro. O fato que originou a primeira denúncia aconteceu durante um atendimento em Orós, no Centro-Sul do estado. Ele foi preso em flagrante no dia 29 de março, quando a paciente, que passaria por cirurgia, saiu do consultório e procurou uma delegacia. Por meio de nota a defesa do médico afirmou que as acusações “são frágeis e não têm coerência alguma”.

A paciente do município de Catarina, por sua vez, relatou que o crime que a vitimou aconteceu em 2017, quando ela tinha 22 anos. O caso ocorreu quando ela foi a uma consulta acompanhada da própria mãe.

Logo depois de perceber o abuso, a jovem conta que gritava e batia na porta pedindo socorro, mas o médico não a deixava sair. Até um momento em que a situação começou a chamar a atenção das pessoas, então o médico abriu a porta e ela saiu correndo.

Ela disse ainda que saiu correndo pelo hospital e encontrou a própria tia, que trabalhava nos serviços gerais da unidade. A familiar perguntou o que tinha acontecido, mas ela não conseguia falar porque chorava de maneira intensa.

Mãe impedida de entrar no consultório

“Eu não consegui entrar na sala com minha mãe. Ele pediu que ela aguardasse fora. Eu entrei na consulta. Ele aparentava ser um médico profissional. Perguntou minha idade, meus dados, o que eu estava sentindo no momento”.

Ela disse que no hospital não tinha nenhum cômodo de apoio, como outra sala e banheiro, para que ela pudesse trocar de roupa, então ela se despiu na frente do médico.

“Ele pediu que eu deitasse na cama. No momento que deitei, ele já tocou meus seios, perguntando se eu sentia algum caroço, dor ou alguma coisa. Eu achei tudo ok até porque eu não tinha feito nenhum procedimento como o que eu fui fazer”, lembra a jovem.

Ela disse que percebeu quando ele trancou a porta, mas não estranhou a ação, já que ela não sabia quais eram os procedimentos normais desse tipo de consulta. “Ficamos só nós dois lá dentro. Não tinha nenhum auxiliar, enfermeiro, ou outra pessoa lá dentro”, explica.

Olhares diferentes

Sentindo-se violentada pelo ginecologista, a jovem precisou ainda enfrentar os comentários da população de Catarina, no interior do estado, onde aconteceu o caso.

“Só eu senti naquele momento o preconceito das pessoas dentro do hospital. As pessoas diziam que era minha mentira. Eu saía na rua e as pessoas me olhavam diferente, tinham vergonha de mim. Tudo ali para mim foi mais difícil”, conta a jovem.

“Eu fiquei com depressão, tomei remédio controlado. Até hoje eu tenho crise de ansiedade”, revela.

Ela disse, inclusive, que o diretor do hospital, à época, a levou para uma sala privada, logo após o ocorrido, e pediu para que ela não denunciasse o caso.

“Eu falei para ele: ‘eu vou pela minha coerência. Não quero dinheiro, não quero nada. Eu quero que isso que aconteceu comigo não aconteça com outras pessoas; que não deixem passar o que aconteceu comigo’”, declara.

Medo de represália

A vítima disse que, logo em seguida ao abuso sexual, foi a uma delegacia do município e registrou a denúncia. “O delegado me apoiou demais, o policial também; eles foram logo ao hospital para fazer a prisão por flagrante, porque eu estava toda vulnerável”, falou a mulher.

Ela disse que os funcionários do hospital falaram às autoridades que o médico não estava na unidade — informação que ela acredita ser mentira. Com isto, a jovem precisou ir até Tauá, outro município, para fazer um exame de corpo de delito.

“A cidade é pequena. As pessoas sabem das notícias muito rápido. Souberam que o meu resultado [do corpo de delito] deu positivo. As pessoas começaram a comentar que meu pai ia perder o emprego, porque ele trabalhava na prefeitura, e minha tia também; que ia acontecer alguma coisa comigo”, comenta.

Ela disse que, por conta da situação financeira da família, eles não conseguiam contratar um advogado. Além disso, o medo que algum familiar sofresse represálias também começou a pesar, o que a fez não seguir insistindo no caso.

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