Medo de perder amizade e manipulação: veja detalhes dos depoimentos dos acusados de matar jovem achada em mata

Os três amigos acusados de matar Ariane Bárbara, em Goiânia, revelaram detalhes sobre o planejamento e a execução do crime quando passaram por exame de insanidade mental na Justiça de Goiás, que deu negativo. Jeferson Rodrigues, que dirigiu o carro, foi o que mais falou com os psicólogos e disse que foi forçado a participar do assassinato para não perder a amizade que fez com Raíssa Borges e Enzo Jacomini, vulga Freya, há apenas duas semanas antes do crime.

“Elas me forçaram a participar disso tudo. Eu não queria perder o meu grupo de amigos. Elas armaram para mim. Disse que estavam planejando matar uma pessoa e que eu tinha que participar”, detalhou Jeferson durante a avaliação mental.

O advogado Luiz Carlos Ferreira, que defende Jeferson no processo, alega que o cliente tem histórico de depressão, mas sempre foi uma pessoa empática, o que explica diversas atitudes dele com o Enzo e a Raíssa, incluindo transferências de dinheiro apesar do pouco tempo de amizade.

g1 não localizou a defesa de Enzo Jacomini e Raíssa Borges.

A estudante Ariane Bárbara tinha 18 anos quando foi morta e abandonada numa mata do setor Jaó, em agosto de 2021, pelos amigos (veja detalhes do crime abaixo). Os três foram presos na época após a Polícia Civil identificar a ação do grupo analisando câmeras de segurança. O carro do Jeferson foi filmado na cena do crime. Eles continuam presos até a última atualização desta reportagem.

O objetivo era descobrir se Raíssa era psicopata e, para isso, ela precisaria matar uma pessoa para avaliar a própria reação depois do crime.

O processo contra a adolescente, também acusada de ajudar no planejamento, corre em segredo de justiça e, por isso, o g1 não teve acesso ao depoimento.

Nessas duas semanas de amizade, Jeferson transferiu R$ 800 para a nova amiga Raíssa Borges, para ajudar na moradia e alimentação dela e da adolescente, segundo o advogado. O jovem, no entanto, disse que era extorquido pela menina.

No mesmo dia em que conheceu Freya, o jovem enviou um “curriculum namorae” para o e-mail dela. Ele destaca as qualidades e vantagens que tem como pretendente de um namoro (veja abaixo). Para o advogado Luiz Ferreira, isso mostra até uma “mente infantilizada” que ele teria.

“No dia do ocorrido, a [adolescente] me chamou para tomar café às 5h. Ela disse que era filha de traficante e me ameaçou se eu não participasse. A Raíssa tentou duas vezes enforcar a Ariane, mas não conseguiu. O Enzo enforcou até ela desmaiar e aí foi dada a primeira facada pela Raíssa”, explicou Jeferson Rodrigues.

Veja os depoimentos:

Enzo Jacomini (Freya):

Quando foi questionada pelos psicólogos sobre como avalia o crime, Freya contou que vê como um “desastre que destruiu sua vida”. No entanto, os peritos relataram que ela não demonstrou arrependimento.

“A [adolescente] deu uma facada na japa. Aí mandou todo mundo sair do carro e ajudar a tirar o corpo. Concordo que a vítima perdeu sua vida, mas eu não planejei, não tenho nada a ver com isso”, argumentou aos peritos.

Raíssa Nunes:

No exame, a jovem disse que chegou a se questionar o que estava fazendo ao enforcar Ariane, mas que o crime continuou mesmo assim. Os psicólogos destacaram que ela tentou conduzir a perícia e se mostrou manipuladora.

“Quando eu comecei a enforcar ela, me perguntei o que estou fazendo aqui? Aí parei de enforcar, a Freya sentou no colo da Ariane e a enforcou. A Ariane pediu ajuda para a [adolescente], que ficou rindo e passando a mão na cabeça da Freya”, detalhou.

Raíssa relatou ainda que deu uma facada no peito de Ariane. “Não lembro quem deu a ideia de enterrar o corpo no Jaó. Ele não foi enterrado. Colocaram pedras e terra em cima”, revelou Raíssa.

Crime

O corpo da jovem foi encontrado em 31 de agosto de 2021 em uma mata do Setor Jáo. Antes de desaparecer, Ariane de Oliveira disse para a mãe que ia se encontrar com os três amigos para lanchar.

O delegado Marcos Gomes explicou como o grupo se organizou para cometer o crime dentro de um carro:

  • Jeferson ficou responsável por levar o carro, forrar o porta-malas com sacos de lixo (para levar o corpo até o local onde ele seria deixado) e providenciar as facas;
  • Eles colocaram uma música sobre homicídio para tocar durante o passeio e, em um dado momento, o motorista estalou os dedos, o que a Polícia Civil descobriu que era a indicação para Ariane ser morta;
  • Segundo o delegado, primeiro Enzo enforcou a vítima, depois ela foi esfaqueada – a suspeita é de que a adolescente deu o primeiro golpe e Raíssa o segundo;
  • As investigações apontaram que, em seguida, o corpo da vítima foi colocado no porta-malas do carro e deixado em uma mata – Jeferson foi flagrado caminhando pela região na noite do crime.
  • Ainda de acordo com as investigações, o grupo saiu para lanchar logo após o crime e depois continuou convivendo normalmente, inclusive fazendo publicações em redes sociais.

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