Hospitais de campanha do Ceará continuarão montados ‘por tempo indeterminado’, diz Secretaria da Saúde

Mesmo com a redução nos indicadores de novos casos e óbitos de Covid-19 nos últimos dois meses, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) considera que “a pandemia ainda não acabou” e, por isso, decidiu manter montadas, “por tempo indeterminado”, as estruturas de hospitais de campanha que ajudaram a diminuir a pressão no sistema de saúde do Estado.

Ao todo, a Pasta investiu em sete hospitais de campanha: cinco na Grande Fortaleza e dois no Interior. Receberam anexos de atendimento o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim; o Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral; o Hospital César Cals (HGCC), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital São José (HSJ) e Hospital de Messejana (HM), em Fortaleza, e outro no município de Caucaia.

Segundo a secretaria, devido à diminuição dos casos e do número de internações pela doença, alguns leitos nessas unidades passaram a ser direcionados para outros perfis assistenciais.

O Ceará registra, até a tarde desta quarta-feira (2), 218.414 casos confirmados de Covid-19 e 8.481 óbitos em decorrência da doença. Os pacientes recuperados já são 192.335. Os dados são da plataforma IntegraSUS, atualizada às 16h58 pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

Desativação

No entanto, o Hospital São José, referência estadual em doenças infecciosas, confirmou que a unidade de campanha com 25 leitos já foi desativada. Ao todo, ela realizou 140 internações, levando a 118 altas e 22 transferências internas para a sede do Hospital. Não houve óbitos. Atualmente, o Hospital mantém uma unidade de 20 leitos exclusivos para Covid-19.

Além disso, a Prefeitura de Caucaia informou que há previsão de desativação do anexo “ainda neste mês de setembro” por causa da queda nos registros. Desde a abertura do equipamento até a última terça-feira (1º), o local teve 44 altas, 21 óbitos e 13 transferências. Se ele iniciou agosto com 18 leitos para Covid-19, hoje destina apenas cinco: dois de UTI e três de enfermaria.

Ítalo Ramon de Araújo, diretor técnico do Hospital, nota uma “acentuada redução” na demanda assistencial nos últimos 40 dias. “Isso tem nos levado a reavaliar nossas estratégias de combate do ponto de vista hospitalar porque temos outras demandas não-Covid, e aos poucos tentamos retomar essas atividades”, explica.

Ao todo, o Ceará teve 11 hospitais de campanha operando durante a pandemia. Além do São José, apenas o hospital de campanha da Unimed Fortaleza, privado, teve desativação de leitos. Eles começaram a operar no fim de março, mas foram desmobilizados na transição de junho para julho, após três semanas sem novos pacientes.

De forma geral, o Ceará já deixou de utilizar 1.255 leitos exclusivos para a Covid-19, representando 42% dos 2.951 abertos pelo Governo do Estado entre abril e junho. Atualmente, são utilizados 1.696, sendo 524 de UTI e 1.172 de enfermaria para o atendimento. Os demais foram redimensionados para outras especialidades já que, de acordo com a Sesa, as consultas ambulatoriais e as cirurgias eletivas “estão sendo retomadas gradativamente”.

Outro hospital de campanha com possibilidade de encerramento ainda em setembro é o do Estádio Presidente Vargas (PV), em Fortaleza, que continua de pé, mas sem receber novas internações desde o dia 30 de julho, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A unidade realizou 1.239 atendimentos desde a inauguração, dos quais 1.025 resultaram em altas e 140 em óbitos.

A SMS informou que ele “permanece com sua estrutura física montada para acolher pacientes de acordo com a demanda da população”. “Como ainda estamos em pandemia, continuamos observando o cenário epidemiológico, que felizmente é de muita estabilidade com decréscimo sustentado de casos, óbitos e demanda assistencial”, destaca Joana Maciel, titular da Pasta.

A vendedora de cosméticos Maria Célia Rodrigues, 56, foi uma das vidas salvas no hospital do PV, onde chegou a ficar na UTI com 90% dos pulmões comprometidos, em maio. “Me colocaram na máscara e acho que passei duas semanas. Perdi noção do tempo, não tinha força pra nada, igual a um bebê. Tinha um medo grande de dormir e não acordar mais”, relembra.

Aos poucos, em junho, o quadro clínico dela foi melhorando até a alta. Contudo, Célia revela que só em agosto se livrou totalmente da tosse seca e do cansaço. “Eu vi a morte na minha frente”, sentencia a moradora da Barra do Ceará, que crê ter renascido por intervenção “de Deus e dos médicos”.

Interior

O hospital de campanha Dr. Francisco Alves, em Sobral, tinha, nesta quarta, 66% de leitos de UTI ocupados – 10 dos 15 – e 34% dos de enfermaria – 12 dos 35. A Prefeitura informou que mais de 400 pacientes já foram acolhidos no espaço, dos quais 320 evoluíram para recuperação e 56 faleceram. Embora tenha confirmado a diminuição da demanda, “o Hospital não tem previsão para desativar”, avisa a gestão.

Segundo a Sesa, pelo Hospital Regional Norte, também em Sobral, passaram 255 infectados por Covid-19. Já o Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, recebeu 403 pacientes.

G1 contatou a Secretaria Municipal de Saúde de Juazeiro do Norte, que também implantou um anexo do tipo, para saber quantos pacientes já haviam sido tratados nele e se há previsão de desativação. No entanto, não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

Estruturas sem pacientes

Duas estruturas de hospitais de campanha chegaram a ser montadas no Ceará, mas não receberam pacientes. A Sesa informou que, em Maracanaú, o local levantado entre maio e junho está sendo utilizado como Centro de Testagem para a Covid-19, com capacidade para realizar 500 exames por semana.

Já o espaço provisório anexo ao Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) foi montado em abril, prevendo a sobreposição da Covid-19 aos casos sazonais de gripe. Contudo, a análise dos casos pediátricos da doença levaram à conclusão de “não haver necessidade da estrutura temporária”. A desativação ocorreu em maio.

Planejamento

Para a médica Fernanda Colares, professora do Curso de Medicina da Universidade de Fortaleza e diretora geral do Hospital Regional Unimed, os hospitais de campanha foram estratégias importantes de planejamento desde os primeiros estudos epidemiológicos que revelavam a necessidade de mais leitos.

“Não daria tempo de fazer uma estrutura de alvenaria ou achar um grande espaço para isso. Ao mesmo tempo, precisamos dar o mínimo de conforto ao paciente. A diferença foi que desmistificamos aquela coisa mal-ajambrada, feita de qualquer jeito”, explica.

No entanto, ela também observa que as estruturas não devem ser utilizadas de forma permanente. “Se for a longo prazo, tem que construir unidades dentro das normas e regras de segurança. A pandemia é uma exceção pela calamidade pública, mas um hospital de campanha não deve ser usado para sanar problemas rotineiros. Para isso, tem que ter planejamento”, indica Colares.

G1.

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