Enfermeira usa moto para atender comunidades da zona rual do Ceará

Há seis anos como enfermeira, Ana Neulicia, 36, faz o possível e o impossível para não deixar quem mais precisa sem atendimento no pequeno distrito de Parapuí, em Santana do Acaraú. Na pandemia, os cuidados dobraram e a demanda também, já que a recomendação é que as pessoas só saiam de casa em último caso. Para quem mora em localidades mais distantes, a visita da profissional também é a única chance de acesso aos testes rápidos para a Covid-19.

Segundo a Plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará, atualizada às 17h57 desta segunda-feira (13), o município já registra 481 casos confirmados da Covid-19 e 21 óbitos causados pelo novo coronavírus. Em todo o Estado, são mais de 137 mil casos da doença e quase 7 mil mortes.

Atuando na Unidade Básica de Saúde (UBS) Maria José Pinto há quase quatro anos, a enfermeira chega a usar uma moto para driblar as dificuldades e conseguir chegar à comunidades mais distantes, onde o carro da Prefeitura não consegue.

“Como as casas são bem distantes e a maioria das pessoas têm medo de chegar até a unidade, a gente prefere fazer a visita domiciliar. Fica mais dispendioso, mas é uma questão de prevenção para não tirar o idoso de seu ambiente e trazer para uma aglomeração”, ressalta.

Áreas de Difícil Acesso:

  • Engenho Velho;
  • Capoeira Velha (Morro dos Rochas); 
  • Vassouras (Ateiras – Foto)

A enfermeira conta que, durante o período chuvoso, os moradores chegam a ficar “ilhados”. “No inverno, quando está tudo cheio, a gente tem que chegar aqui de canoa. O acesso para as localidades é bem complicado, principalmente no inverno, mas depois também. São umas veredas e o que dá para passar é moto”, explica. Com as boas chuvas que banharam o Ceará neste ano durante a quadra chuvosa (fevereiro a maio), a situação das estradas da região piorou. “Até a coleta do sangue para teste da Covid-19, a gente faz na residência do paciente. É importante para que a pessoa não tenha que sair de casa e não corra o risco de adquirir a doença mas também para não correr o risco de transmitir”.

Dia a Dia

Para Ana Neulicia, o dia começa cedo, antes das 6 horas, quando se levanta para preparar o café e aguardar a chegada do carro da Prefeitura que a levará ao trabalho, a cerca de 18km da sede municipal. “As 7 horas o carro da Prefeitura passa para me pegar e depois o restante da equipe – o médico, dentista e a técnica de enfermagem. Tambémpassamos nos outros locais para buscar os insumos que serão usados durante o dia”, lembra.“Temos mais de dois mil habitantes e seis áreas de saúde no distrito, com seis agentes de saúde. As nossas áreas são bem extensas e distantes”. 

Após isso, os demais profissionais da saúde ficam na unidade hospitalar enquanto a enfermeira parte para os locais mais distantes. Quando as estradas ajudam, o motorista da Prefeitura acompanha a enfermeira; quando não, o jeito é pegar uma moto emprestada.

“Quando chego na residência, procuro resolver o problema do paciente. Faço as consultas, coletas, as vacinas e entrego os medicamentos. Retorno à unidade umas 12 horas para voltar às visitas uma hora depois”

“Quando o lugar não tem acesso com o carro, peço emprestada a moto do vigia da unidade ou de algum agente de saúde. A moto mesmo não é minha”.

O trabalho se desenvolve até às 16 horas, inclusive, para a realização dos testes rápidos. “A gente leva o isopor com o material e máscara de pano cedidas pela Prefeitura para dar ao paciente. É para nossa prevenção também. São testes rápidos, que depois são levados ao laboratório do hospital. Recebemos o resultado só à noite, que é impresso e colocado em um envelope. No dia seguinte, a gente entrega ao paciente e ele abre para saber o resultado”, conta.“Infelizmente, também tivemos algumas perdas, mas, seguimos firmes ajudando o máximo que podemos”.

Áreas Atendidas:

  • Curral Grande;
  • Tabuleiro Alto;
  • Morro dos Rochas;
  • Vassouras;
  • Centro de Parapuí (dividido em duas áreas).

Diário do Nordeste

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