Dupla cigana do Ceará mantém tradição de seu povo com músicas românticas

Com a camisa estampada em preto e dourado, os colares e anéis a mostra, os irmãos ciganos Dirceu e Ataliba utilizam o figurino e a música como expressões de uma cultura milenar. Nascidos em Sobral, no interior do Ceará, e filhos de pai maranhense e mãe cearense, eles pertencem a etnia Calon, mas têm residência fixa em Fortaleza há mais de 40 anos. A dupla é adepta de canções românticas e mostrou parte desse repertório em show realizado na programação do IX Encontro Sesc Povos do Mar, que acontece até o dia 26 de setembro em Iparana, no município de Caucaia.

Cauby Peixoto, Genival Santos, Waldick Soriano, Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano, e Milionário & José Rico são alguns dos nomes que inspiram os dois nas apresentações que realizam na cidade de Fortaleza. Mas, além das músicas bregas e sertanejas, eles agregam ao setlist canções no dialeto chibi, falado pelo povo Calon.

“O público sempre pede alguma música em chibi. Só não podemos ficar falando o que significam as palavras, porque essa foi uma maneira que os ciganos encontraram para se defender das perseguições”, conta Dirceu, refletindo sobre os preconceitos que enfrentam ainda hoje por sua origem nômade.

“Quiliela calin” é uma das músicas mais pedidas nos shows. Segundo Dirceu, ela fala sobre a dança de uma mulher cigana. Essa e mais duas ou três com o vocabulário chibi, somando-se a outras canções que não pertencem ao seu povo, são entoadas em apresentações de 2h a 4h de duração.

Trajetórias

Dirceu já é envolvido com a música desde os 13 anos. Aprendeu a tocar violão com Antônio, irmão mais velho, e desde então não largou mais o instrumento. Ataliba, que canta e dança durante as apresentações, não teve o mesmo processo. Envolvido com a atividade profissional de vendedor de automóveis por um bom tempo, ele despertou para as possibilidades de trabalho no ramo artístico há pouco mais de um mês. “Ainda estou avaliando o mercado, mas gosto de cantar e dançar com meu irmão”, diz.

O dono do violão, por sua vez, além da formação como agente ambiental, fez carreira musical ao longo das últimas décadas, apresentando-se ao lado dos mesmos ídolos que inclui no repertório hoje. “Já cantei com Genival Santos e Waldick Soriano numa churrascaria na BR 116, que não funciona mais. Foi muito bom esse período”, recorda.

A dança que, entre os homens, envolve principalmente a batida de pé e de mão, é ressaltada por Ataliba e Dirceu como uma herança ancestral. “Nós aprendemos isso com os antigos. Os passos mostram nosso momento de alegria, é a festa do cigano”, afirmam.

Apesar das dificuldades de atuação no mercado musical e ainda dos preconceitos enfrentados pelo povo cigano, Dirceu, diferente de seu irmão, não cogita desistir. “Eu não vou parar, vou continuar. A música me faz bem, me dá alegria e eu também proporciono felicidade à outras pessoas. Essa sim é a mensagem cigana”, conclui.

G1

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