Desigualdade e saúde mental de estudantes fazem entidades recomendarem reabertura segura das escolas

Os governos devem priorizar a reabertura segura das escolas e garantir o direito de crianças e adolescentes à educação. Esta é a conclusão de entidades internacionais ligadas à proteção dos jovens e à saúde. Essa retomada é necessária, segundo os órgãos, para evitar que se agravem ainda mais as desigualdades de aprendizagem e os impactos na saúde mental dos estudantes.  

Assim, o fechamento de instituições escolares só deve ser considerado quando não houver alternativas. Essas orientações são do guia atualizado com protocolos sanitários e medidas de segurança contra a disseminação do novo coronavírus na volta às aulas – publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco). 

A representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, reforça o alerta. “O fechamento das escolas tem impactos profundos na vida de crianças e adolescentes. Com o início da pandemia no Brasil, em março, estima-se que 44 milhões de estudantes ficaram longe das salas de aula. Tendo em vista as diferentes realidades brasileiras, as opções de atividades para a continuidade das aprendizagens em casa não estão se dando de forma igual para todos. Manter as escolas fechadas por muito tempo pode agravar ainda mais as desigualdades de aprendizagem no país, impactando em especial meninas e meninos em situação de vulnerabilidade”. 

Saúde mental 

A saúde mental de crianças e adolescente é outra preocupação que leva as entidades a recomendarem a reabertura segura das escolas. “O tempo prolongado de isolamento, longe da escola e dos amigos, tem impactos profundos na vida de crianças e adolescentes. A isso se unem o problema da má nutrição, uma vez que muitas crianças se alimentam prioritariamente na escola, e a proteção contra a violência”, afirma Bauer.

Violência 

As entidades alertam, ainda, que o isolamento pode colocar meninos e meninas sob risco maior de sofrerem violência, já que grande parte dos abusos ocorre em casa. Da mesma forma, com o retorno de pais ou responsáveis ao trabalho presencial, particularmente em comunidades mais vulneráveis, crianças podem ficar sozinhas ou aos cuidados de irmãos ou outras pessoas e expostas à negligência e ao trabalho infantil. 

Para vencer o desafio, a diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, defende uma integração entre especialistas das áreas de saúde e educação para que as crianças e jovens possam voltar para as escolas e não seja necessário retroceder nessa decisão.   

“O risco de evasão é muito alto, e nosso compromisso é assegurar que vidas sejam preservadas, ao mesmo tempo em que garantimos e mantemos os ganhos educacionais. O momento é de comunicação e integração entre as áreas da saúde e da educação, para determinar a viabilidade da reabertura das escolas. Precisamos de sistemas educativos mais resilientes e inovadores, que encontrem as soluções adequadas para assegurar o direito à educação, um dos alicerces do desenvolvimento sustentável”, afirma. 

Adaptação das escolas 

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil, Socorro Gross, destaca o que pode ser feito para adaptar as escolas para dar segurança aos estudantes, o que envolve dispor de “espaços bem ventilados, com janelas abertas; disponibilizar instalações de higiene respiratória e das mãos; garantir o distanciamento físico de pelo menos 1 metro uns dos outros; e assegurar o acesso fácil a informações atualizadas sobre a Covid-19, tanto para alunos quanto para famílias e funcionários, além de ter um cronograma de limpeza e desinfecção diária de instalações e superfícies – principalmente, as que são tocadas com mais frequência –, entre outras medidas relacionadas ao contexto da escola”, diz. 

Isso, segundo ela, deve ser pensado no contexto das áreas onde as escolas estão. “As medidas tomadas para reduzir o risco de transmissão da Covid-19 nas comunidades também reduzirão o risco nas escolas”, destaca Socorro Gross. Sobre a saúde mental dos estudantes, a representante da entidade ligada à OMS reforça que “é importante que, ao voltar às aulas, as crianças possam ter segurança para expressar sentimentos como medo e tristeza. Cada criança tem seu jeito próprio de expressar emoções. Às vezes, iniciar uma atividade criativa, como uma brincadeira ou um desenho, pode facilitar esse processo”.

Diario do Nordeste

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