Ceará tem o menor índice de homicídio registrado no Brasil no primeiro bimestre

Depois de ter batido recordes nos números, o estado do Ceará apresenta redução de homicídios. De acordo com estatísticas do Monitor da Violência do G1, que analisa números de assassinatos em todo o Brasil, o Ceará foi o estado com maior diminuição de mortes no primeiro bimestre de 2019, seguido pelo Rio Grande do Norte.

Os dados apontam que, em janeiro e fevereiro deste ano, o estado apresentou queda de 57,9% no índice de mortes violentas. Nos dois primeiros meses de 2018, foram assassinadas 844 pessoas, enquanto no mesmo período de 2019 foram 355 mortes.

A diminuição entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano foi de 60,2%, enquanto na comparação entre os meses de fevereiro a queda é de 55%.

‘Conjunto de ações’

Para o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), André Costa, a diminuição é resultado de um conjunto de ações e estratégias iniciadas ainda em 2017. Já para o estudioso da violência no Ceará Luiz Fábio Paiva, a redução ocorreu devido a um acordo entre facções criminosas, que se uniram para atacar órgãos do estado no início do ano.

Conforme o secretário, os resultados positivos só chegaram porque os policiais civis e militares passaram a confiar e acreditar no trabalho que foi pensado pela cúpula da pasta.

“Inicialmente, a gente combateu a chamada mobilidade do crime, identificamos que, para muitos crimes graves, o criminoso se utiliza de veículos e, normalmente, de veículos roubados, furtados, clonados, para dificultar o rastreamento do usuário do carro. Ampliamos o motopatrulhamento. O motopatrulhamento chega muito mais rápido quando o sistema detecta a presença desse veículo”, citou André Costa dentre as ações adotadas.

Os investimentos feitos na tecnologia aliada à Segurança Pública é outro ponto destacado pelo secretário. De acordo com o gestor, o Ceará tem sido pioneiro e referência no Brasil.

“Trouxemos a Universidade Federal do Ceará com seu Departamento de Computação para trabalhar dentro da Secretaria, uma metodologia diferente, que não foi utilizada antes no Brasil. A gente tem esse trabalho com 130 pesquisadores, desenvolvedores dessa tecnologia, sendo 100 da Universidade e 30 da polícia”, disse.

‘Acordo entre facções’

O pesquisador do Laboratório de Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC) Luiz Fábio Paiva pondera que os números devem ser observados em um prazo maior. O especialista garante que os últimos anos foram intensos em termos de violência de grupos armados que protagonizaram diversos homicídios, inclusive chacinas e invasões territoriais.

“Boa parte da nossa população que morreu em confrontos armados, pelo menos, nos últimos cinco anos, com intensidade maior em 2017 e 2018, [morreu como parte de um fenômeno] muito colado ao fenômeno das facções criminosas. Obviamente, em algum momento, isso ia retroceder, até pela dinâmica do próprio conflito”, afirma.

“Eu tenho chamado muita atenção quanto a isto: de que os resultados deste ano não significam uma mudança no trabalho do governo do estado, que vem realizando uma política de enfrentando há alguns anos, e a diferença agora é que estamos passando por um processo de acomodação”, esclarece o pesquisador.

Luiz Fábio acrescenta que, em janeiro, o Ceará passou por um cenário diferente. Ainda no dia 2 daquele mês de 2019 foi registrado o primeiro crime da maior sequência de ataques ocorrida no estado.

Facções criminosas rivais se uniram em prol de cometer ofensivas para desafiar a segurança pública. As ações foram desde tentativas de derrubar pontes até incêndios contra veículos do transporte público.

“Os eventos de janeiro, quando Fortaleza ficou sob ataques de grupos armados, demonstram que esses grupos continuam existindo e atuando, e exercendo o domínio territorial nas periferias urbanas.”

“O que nós estamos experimentando agora é a reacomodação das forças. Dizer isso não é desqualificar os serviços de segurança pública, as forças policiais e o sistema de Justiça, mas reconhecer que eles não têm como serem os responsáveis por um processo que é muito maior. Os grupos continuam existindo e atuando e impondo o seu mando nas periferias de todo o estado do Ceará”, pontuou o pesquisador.

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