Árbitro com antebraços amputados faz estreia em campeonato de base no Pará

Em Santarém, no oeste do Pará, o campeonato da categoria sub-17 teve início no último final de semana. E em meio aos garotos que veem na competição uma vitrine para ingressar no cenário profissional, outra história chamou atenção, a de Vianei Batista, de 57 anos, que fez sua estreia pela Liga Esportiva de Santarém (LES) como árbitro, na tarde de domingo (10).

O Nova Esperança venceu o Americano pelo placar de 1 a 0. Porém, foi a história de superação de um árbitro de futebol sem os dois antebraços que marcou mais a primeira rodada da competição de base.

Vianei Batista de Siqueira iniciou sua trajetória na arbitragem há 15 anos, após ser convidado por um amigo para apitar um campeonato sub-15 amador. Ele foi vítima de um acidente há 25 anos e teve que amputar parte dos dois braços. Apaixonado por futebol, ele teve que parar de jogar, mas viu na arbitragem a oportunidade de seguir fazendo o que gosta.

– Após a explosão há 25 anos, eu achei que ficaria longe do futebol. Eu amava jogar, mas me afastei por conta das minhas limitações. Depois de um tempo, um amigo que estava organizando um torneio amador no bairro do Santarenzinho me perguntou se eu poderia apitar, já que eu conhecia as regras. Foi aí que eu me reaproximei do esporte – explicou.

Ele começou a apitar amistosos, campeonatos de base e partidas festivas. Encorajado pelos amigos a participar de uma capacitação de árbitros no ano de 2016 – oferecido pela Federação Paraense de Futebol (FPF) – se formou, mas continuou apitando apenas torneios amadores.

Após vários convites, ele aceitou apitar jogos do Campeonato Santareno Sub-17, tradicional competição das categorias de base de Santarém. Após quatro meses de testes e preparação para os aspirantes a árbitros da LES, Vianei Batista foi aprovado e escalado para apitar jogos na competição.

-O Vianei Batista é uma pessoa muito especial no cenário de arbitragem santarena. Ele finalmente fez a sua estreia em uma competição oficial da liga e nós esperamos muito por esse dia. Ele merecia isso, que é um marco na história da liga e da arbitragem santarena- ressaltou o coordenador de arbitragem da LES, Geovan Parintins.

Adaptação

Para exercer a função, o aposentado, que hoje vive para o esporte, adaptou alguns dos materiais de trabalho. Os cartões ficam presos ao seu pescoço com apoio de fios, ele usa os braços para erguer os cartões e o apito é adaptado a um relógio, preso no braço.

-No início foi bem difícil, tudo é difícil no começo, e ainda é. Estaria mentindo se dissesse que não, porém com força de vontade eu passei por cima das limitações e consigo exercer a arbitragem muito bem.

Vianei brincou com o fato da idade e disse que se tiver vigor ainda pode apitar até os 100 anos.

– O acidente me deixou longe do que eu gostava de fazer por um tempo, mas não deixei isso me abater. Poderia viver o resto da minha vida triste, mas escolhi me superar e continuar a fazer algo que eu gosto. E eu deixo um recado aos meus amigos com deficiência física: vivam felizes, façam o que gostam! Só quem pode dizer que você não consegue é você mesmo -finalizou.

*Colaborou Rodrigo Costa, estagiário, sob a supervisão de Gustavo Campos (G1)

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