Alunos da rede pública do Ceará relatam dificuldades no ensino a distância

O cronograma letivo das escolas precisou ser realinhado a partir da rápida propagação da Covid-19. Com a orientação de isolamento social, as unidades de ensino suspenderam as atividades presenciais, mas traçaram estratégias de ensino domiciliar, como o uso de aplicativos para aulas virtuais. Alunos da rede pública do Ceará dizem aprovaram o adiamento do Enem e citam dificuldade em competir com estudantes da rede privada que mantêm as aulas por meio de educação a distância.

Em todo país, estudantes, pais e professores narram ‘apagão’ do ensino público durante a pandemia. Um levantamento realizado pelo G1 mostrou que em 7 estados e no DF as atividades remotas não vão contar para o ano letivo.

No Ceará, a suspensão das aulas presenciais entrou em vigor no dia 19 de março após a publicação de um decreto estadual. Entre os recursos utilizados pelas secretarias de Educação do Estado e Município de Fortaleza para fornecer as aulas pela internet estão ferramentas como Aluno Online, Professor Online e o Google Classroom.

Para o estudante do 3º ano do Ensino Médio Lázaro Pereira, de 20 anos, os dispositivos são adequados diante do atual cenário. Ele acessa as aulas através do próprio celular que está “meio ruim”. O aparelho, inclusive, é o único de sua casa. Da tela pequena do telefone, o aluno que pretende cursar Geografia ou Engenharia de Pesca, cumpre as atividades, já como preparação para o Enem.

Contudo, Lázaro acredita que não tem condições estruturais iguais às de pré-vestibulandos da rede privada.

“Problemas básicos, como a falta de internet e até um simples cantinho de estudo faz muita diferença para os alunos de escola pública”, avalia. Apesar da “desigualdade social”, ele encontrou outras formas de reforçar o repertório para a prova. “Estudo mais ou menos três horas por dia o que mais caiu no Enem de outros períodos e acesso plataformas digitais gratuitas que ajudam muito.”

O estudante Artur Menezes, que pretende ingressar em uma faculdade de veterinária, divide o único computador da casa com dois irmãos, que também tentam manter os estudos durante a quarentena. Ele comemorou o adiamento da prova do Enem e aguarda a retomada das aulas presenciais para ter mais chances de obter a aprovação, conforme ele.

“Os alunos das escolas privadas continuam com aula pela internet, eles têm o mesmo conteúdo, só que de casa, a gente não, a gente tem tarefa de casa. Sem aula presencial pra todo mundo a diferença fica maior ainda, a chance de a gente, que é de escola pública, entrar na faculdade fica mais difícil ainda”, afirma.

O Ceará é um dos estados mais afetados pela pandemia no Brasil. São mais de 30 mil pessoas infectadas e 1,9 mil óbitos, conforme dados atualizados na noite de quarta-feira (20). Por conta do avanço da doença, foi decretado um lockdown em Fortaleza, epicentro da Covid-19 no Ceará.

Educação a distância

Dessa forma, as aulas presenciais foram suspensas, o que obrigou professores e alunos a migrarem para a educação a distância. Na rede estadual, a Secretaria da Educação (Seduc) informa que o processo de aprendizagem em casa começou no dia 26 de março, após a elaboração de diretrizes junto ao Conselho Estadual de Educação (CEE-CE).

A pasta determinou que os educadores de todas as áreas do conhecimento usem aparatos tecnológicos para o repasse de conteúdos e tarefas. Entres os recursos utilizados estão o Aluno Online, Professor Online e o Google Classroom.

“As diretrizes da Seduc apontam o livro didático como principal ferramenta para as aulas remotas. Para os alunos que não têm acesso à internet, professores estão elaborando atividades impressas, de forma que todos possam acompanhar os conteúdos. Há ainda uma parceria com a TV Ceará, do Governo do Estado, para a transmissão de aulas das diversas disciplinas, de segunda a sexta-feira, às 14h”, explica a secretaria.

Ensino básico

As escolas públicas de ensino infantil e fundamental de Fortaleza seguem a mesma estratégia de ensino domiciliar, embora a didática seja diferente. Conforme a Secretaria Municipal da Educação (SME), não há aulas ao vivo, mas os professores utilizam aplicativos de conversa para a explicação de matérias e o envio de atividades. Na impossibilidade de o estudante acessá-las, a coordenação envia as atividades para as residências dos matriculados.

É o caso do professor Renan Dantas, que ministra aulas de inglês para 13 turmas de 8º e 9º anos. Ele afirma que na rede municipal “ainda não houve a padronização de qual aplicativo ser usado”, por isso, adotou grupos em aplicativos de conversas. “Eu pensei que o Classroom seria adotado pela Prefeitura, mas como até agora não chegou nada oficial, a gente está fazendo dessa forma”, justifica.

Depois de gravar áudios com as explicações das regras da língua estrangeira, Renan direciona a atividade no livro e fica de “plantão” para tirar dúvidas durante o expediente. Contudo, ele menciona que a escola também criou uma página nas redes sociais que auxilia a divulgação das aulas.

“Eu já fiz alguns vídeos para o perfil no Instagram, e os alunos adoram, mas a principal ferramenta pedagógica tem sido mesmo o WhatsApp”.

De acordo com a SME, as ações serão computadas nas 800 horas de aulas que os alunos devem cumprir no calendário escolar anual, cuja reorganização “está em discussão e será executada com base nos dias letivos e conteúdos obrigatórios”. Já a Seduc comunicou que estuda as experiências de outros países para tomar decisões sobre o retorno das aulas presenciais.

Por G1

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